24 anos

Hoje completo 24 anos! Vou aproveitar bem, porque ano que vem ganharei dez anos de uma vez, farei 34… E no próximo vou ter que parar a brincadeira, porque 44 fica a mesma coisa nos dois sentidos. E depois é que não vou continuar, imagina se vou querer ter 54 ao invés de 45! Então este é o melhor aniversário dos próximos anos, até porque quando voltarei a rejuvenescer, aos 51, o salto será grande demais, não tenho vontade de ter 15 novamente. Mas depois recomeço, 25 aos 52 me parece um bom negócio! Ou talvez até lá eu realmente tenha crescido e não tenha mais coragem de anunciar por aí minha idade ao inverso, como hoje de manhã, quando respondi a um amigo que estou fazendo 24 anos. Ele replicou que estou muito bem para uma mulher de 24. 

Na primeira vez que fiz 24 anos, eu era uma jovem cheia de entusiasmo. Tinha me mudado para Paris há um ano, estava retornando do meu primeiro trabalho de campo, que também foi minha primeira viagem ao Oriente Médio, e escrevendo minha dissertação de mestrado, feliz com o desafio de redigir em francês. Nesta época tudo era possível, até mudar o mundo. Eu já tinha encontrado o Vincent e decidido que namoraríamos sério. Estava cansada dos ficantes e da histeria de me apaixonar repetidamente – porque eu vivia me apaixonando. Rezei uma espécie de novena de vinte e um dias, pedindo a Deus que colocasse no meu caminho um rapaz divertido, inteligente, que me amasse e eu amasse também, e que fosse mais alto do que eu. Acho que ainda estava rezando quando conheci o Vincent. A primeira vez que ele me visitou, eu alugava um quarto na casa de uma madame tão rica quanto fria, na periferia chique de Paris. Como estava anoitecendo e em breve o metrô pararia de funcionar, sugeri que ele dormisse no chão, num colchão ao lado da minha cama. Queria que o namoro vingasse e, para isto, estava decidida a fazê-lo esperar, como nos velhos tempos. Ultrajado com minha proposta, Vincent preferiu ir embora. Acho que foi aí que comecei a me apaixonar. Eu coloquei meus limites, ele aceitou e colocou os dele. Gostei. 

Voltando aos meus primeiros 24 anos… Eu ainda tinha mãe e não imaginava que oito anos mais tarde ela não estaria mais por aqui. Não sabia que ter mãe era ter chão e uma fé inabalável na vida. Agora que faço 24 anos pela segunda vez sou mais cautelosa. Não tenho seu colo para me aconchegar caso as coisas deem errado…

Mas tenho uma filha que adora quando consegue, por alguns instantes, inverter nossos papéis. Fico atenta para que isto não aconteça, sei que não é correto, mas confesso que às vezes acho gostoso. Como da última vez em que, ao me ver triste, ela colocou as mãos em volta do meu rosto e ficou repetindo, para levantar minha moral: você é bela, você é inteligente, eu tenho orgulho de você. Achei graça na faísca que saía dos seus olhos, Jasmim se deleita quando está no comando. Esta menina não é mole. 

E tenho um filho que está crescendo. Enzo não é mais meu bebê, não o vejo mais como uma extensão do meu próprio corpo, mas ele ainda me enche de beijinhos e declarações de amor. Vou confessar outro prazer culpado: alguns meses atrás ele sussurrou no meu ouvido: “Mamãe, não conta pra ninguém, mas eu te amo um pouquinho mais do quê o papai”. Viva o Édipo!

Aos meus segundos 24 anos, tenho uma bagagem de amizades perdidas, ilusões perdidas, ambições perdidas… Mas tenho também amizades nascentes, um olhar mais lúcido e projetos alinhados com aquilo que realmente desejo. 

Sim, tenho desejos. E hoje desejo manter o entusiasmo dos primeiros 24 anos até completar 25 novamente !